Empresários brasileiros precisam ter uma postura mais ativa diante da crise

O cenário geopolítico internacional e as perspectivas para a saída da crise mundial que já se prolonga por dez anos, foram temas abordados durante a palestra do professor  Francisco Teixeira. Ele esteve em Blumenau a convite da  Fundação Dom Cabral (FDC) e a sua afiliada em Santa Catarina, a Fundação Fritz Müller. Teixeira é professor convidado da FDC e docente de  História Moderna e Contemporânea na UFRJ,  doutor em História pela Universidade Livre de Berlim (FU Berlin), Alemanha, e Pós-Doutorado em História Política e Social na USP.  Sob o título “Ambientes atuais e cenários futuros”, o professor conduziu a palestra para uma profunda e clara reflexão  de como as grandes potências têm conduzidos suas políticas internacionais com o objetivo de superar a crise. Em uma entrevista exclusiva ele falou a respeitos do cenário internacional, dos seus reflexos sobre os problemas vividos no Brasil e o papel dos empresários brasileiros para superar a crise interna.

 

Fundação Fritz Müller - Como se pode analisar a atual crise internacional? Existe uma perspectiva de quando ela deve chegar ao fim?

 

Prof. Francisco Teixeira - Existem várias interpretações, mas sem dúvida a crise mundial iniciada em 2008 ainda não foi vencida em termos de crescimento econômico. Tanto o crescimento do comércio mundial quanto o PIB das grandes nações ainda não voltou ao nível de 2008 e é isso que caracteriza a chamada Grande Recessão.

 

Uma possível saída ainda não se mostra clara. Alguns apontam para 2019 ou 2020, caso as políticas anticrise sejam efetivas, o que não é claro para países como Brasil e  México, que não têm tomado medidas adequadas para voltar a crescer.

FFM - Nos seu ponto de vista, qual a questão central da crise?

 

Prof. Francisco Teixeira - É preciso ter clareza que a questão central  se refere ao emprego. Precisa-se abandonar a ideia, por exemplo, de índices sobre lucro, sobre bolsas de valores e sobre confiança, esses índices não refletem o que realmente está acontecendo. O aumento do lucro de papéis na bolsa não é referido à economia real, a economia real se refere à empregabilidade, e confundir isso tem dado espaço para a ascensão de movimentos populistas radicais nos Estados Unidos, na Europa e entre nós.

 

FFM - As disputas comerciais entre as grandes potências podem beneficiar o Brasil?

 

Prof. Francisco Teixeira - O Brasil não pode esperar que nada caia do céu, é preciso que o nosso país tenha uma posição ativa participando da disputa internacional conforme o seu tamanho e as suas condições.

FFM - Como o Brasil pode atuar na mudança do cenário internacional?

Prof.  Francisco Teixeira - O Brasil é um país que, pela sua estrutura, pelo seu tamanho e com o seu exemplo de convivência bastante harmônica, tem capacidade de desempenhar um papel fundamental nas relações internacionais. É preciso que ele assuma e aceite esse papel. Para tanto, é fundamental que ele dê dignidade ao seu povo o que, atualmente, não vem acontecendo.

FFM - Qual o papel da conjuntura internacional na crise brasileira?

 

Prof. Francisco Teixeira - A  influência internacional na crise brasileira é mínima. Os setores que fazem transações internacionais, até vão muito bem, o problema é interno mesmo. Internamente muitas tarefas não têm sido cumpridas como o financiamento de arrancada do crescimento.

FFM - Durante a palestra o senhor afirmou que o Brasil foi um dos países que beneficiados com a globalização, estamos sob ameaça de perder esses benefícios com a atual crise interna?

Prof. Francisco Teixeira - Nós tivemos, desde o final do século passado,  ganhos bastante significativos com o processo de globalização. O Brasil teve grandes avanços em saúde pública, educação e salários, ganhos esses que estão sob risco atualmente.  Temos como exemplos a volta de epidemias, o aumento da mortalidade infantil e o retorno dos índices negativos de escolaridade. A continuidade da crise pode nos atingir fortemente.

FFM - É possível reverter essa situação?

 

Prof. Francisco Teixeira - Em 2015 e 2016 o Brasil teve um crescimento de -3,5% e de 1% em 2017, o que significa que não vamos crescer no ano que vem, temos que preencher essas lacunas. Só teremos crescimento real em 2023 ou 2024. Isso é perda real que requer atitudes proativas pelo crescimento e não esperar simplesmente que a conjuntura vire por si mesma. É fundamental que haja políticas proativas que devem ser feitas em direção da empresa brasileira geradora de riqueza e de emprego.

 

O Brasil tem tudo para crescer a 3,5% com distribuição de renda com uma postura muito positiva. É preciso que cada um assuma a sua responsabilidade e não apenas um setor da sociedade seja beneficiado.

 

FFM - Como os empresários brasileiros devem se posicionar para que essa mudança aconteça?

 

Prof. Francisco Teixeira - Os empresários brasileiros devem ter uma postura muito clara perante o governo na questão dos juros. Os juros brasileiros têm impedido claramente a retomada do crescimento. Não é possível que, com uma inflação tão baixa, os juros ainda sejam tão elevados. Dizer que os juros caíram é ilusório, na verdade o atual patamar de juros com a inflação baixa é maior do que quando tínhamos inflação alta. As empresas precisam deixar claro para o governo que nesse patamar de juros não é possível nenhum desenvolvimento.

 

Além disso, o empresário brasileiro ainda é muito provinciano. Ele precisa olhar com mais profundidade esse mercado interno sem perder de vista o mercado externo, mas principalmente dar mais atenção às instituições brasileiras tendo uma participação mais ativa no processo de recuperação das instituições. Sem isso, não vai acontecer nada.

 

Clique aqui para assistir a gravação da palestra na íntegra.

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